quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(Acaba)mento.


Estava eu , ontem , ás duas horas da madrugada , sentada no meu quarto de paredes azul-celeste , cama de solteiro desarrumada e caixa se sapato empoeirada guardando recordações de tempos já vividos , quando você entrou porta adentro e derrubou com sua displicência a palheta de tintas que eu utilizava para pintar meus sonhos.
Desenhava todas as noites do meu ócio criativo , coisas que por vezes faltava-me , ou que talvez criassem a ponte que me levaria ao sossego e as horas de prazer desfrutadas contigo.
Pintei tudo , casa simple e acolhedora mobiliada por objetos rústicos , quintal cheio de plantas , rede na varanda , quadro surrealista na parede e você no banheiro de manhã escovando os dentes , tudo isso conforme luz , cor e sombra apropriados.Na progressão que ía meu desenho não poderia esquerçer desses detalhes tão importantes , o que esqueçi realmente , foi do gosto amargo da desilusão e da dor que dá no peito qunado depois de pronto o desenho , depois de conferido o (acaba)mento e de esculpida por fim a criatura , ela olha-se então no espelho ,toma para si ares de grandeza , amassa o projeto , joga-o na lixeira e sai a desfilar por aí com todo o ar que roubara outrora do meu peito (no instante em que dei-te a força da vida) e deixa-me somente as tintas caídas no chão , manchando as ilusões gestadas em tantas noites de insônia , antes mesmo que as patenteasse.

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