segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quando ela passa.

Lua cheia,
vento safado,
que levanta sua saia,
homens na calçada
conversam sobre futebol e política
e de repente se viram,
pra apreciar aquela vista,
a vizinha sozinha,
que já virou a alegria do bairro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Desorientada.

Faltei às aulas de bons modos.
Etiquetas sempre me deram alergia.
- Mocinhas não sentam de perna aberta!
Exclamava a Polyana.
Garota estúpida.
Ainda prefiro a Danuza.
Não me diga o que tenho que fazer,
Seja na cama ou na sala.
Suas orientações só me atrapalha.
Não me ponha regras.
Ponho no lixo, seus manuais.
Bebo, arroto e bato na mesa.
- Garçom traz mais uma cerveja!
E põe a fofoca na minha conta.
Vivo com meu dinheiro,
Se tiver incomodado,
vá cantar de galo em outro terreiro!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Não se meta.

Metaforicamente nua
Meti os pés pelas mãos 
Uma vértebra a menos de solidão.

domingo, 21 de outubro de 2012

UTI


Não viva contido,
exploda em cada célula,
seu instante de vida.
um infarte fulminante,
ou uma dose de alegria.
não se preocupe com o amanhã,
hoje já pode ser tarde,
pra dizer o que nunca foi dito.
Aos amores!
Aos amores!

A vida que tudo arrasta os amores também
uns dão à costa, exaustos, outros vao mais além
navegadores só solitários dois a dois
heróis sem nome e até por isso heróis

Desde que o John partiu a Rosinha passa mal
vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal
ainda em si mora a doce mentira do amor
tomou-lhe o gosto ao provar-lhe o sabor

Os amores são facas de dois gumes
têem de um lado a paixão, do outro os ciúmes
são desencantos que vivem encantados
como velas que ardem por dois lados

Aos amores!

No convento as noviças cantam as madrugadas
e a bela monja escreve cartas arrebatadas
"é por virtude tua que tu és o meu vício
por ti eu lanço os ventos ao precipício"

O Rui da Casa Pia sabe que sabe amar
sopra na franja, maneira de se pentear
vai à posta restante para ver quem lhe escreveu
foi uma bela monja que nunca conheceu

Aos amores!
(desordeiros irresistíveis deleituosos entranhantes
verdadeiros evitáveis buliçosos como dantes
bicolores transgressores impostores cantadores)

A Marta, quinze anos, vê na televisão
um beijo igual ao que ontem deu junto do vulcão
faz baby-sitting à espera de parecer mulher
quando é que o amor lhe explica o que dela quer?

Depois da dor, como conservar a inocência?
leia um bom livro, legue as lágrimas à ciência
e parta o vidro em caso de necessidade
deixe o seu coração ir em liberdade

Aos amores!
Sergio Godinho.
(Aos que já tive e aos que ainda terei.)

domingo, 14 de outubro de 2012

Boiando...

O tempo constroí muros de Berlim,
Muralhas da China aprisionam desejos.
Tornei-me Mar Morto
pra renascer em outros beijos.
Além-mar,
olhos verdes,
Vejo-te distante deles.
Quem te disse?
Por enquanto ainda vejo.
Pensei que fosse só um mergulho,
e por não saber nadar,
morri de medo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Rei de Havana





Não sabia para onde ir. Com fome e sem dinheiro. Sua morte e sua desgraça era que vivia exatamente o minuto presente. Esquecia com precisão o minuto anterior e não se antecipava nem um segundo ao próximo minuto. Tem quem viva dia a dia. Rey vivia minuto a minuto. Só o momento exato que respirava. Aquilo era decisivo para sobreviver e ao mesmo tempo o incapacitava de fazer qualquer projeto positivo. Vivia do mesmo modo que a água estancada num charco, imobilizada, contaminada, se evaporando em meio a uma podridão asquerosa. E desaparecendo. (p. 163).

Pedro Juan Gutiérrez

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A cor da volúpia.

Seu cheiro é música para os meus ouvidos,
É matéria-prima do desejo,
Batom vermelho.
Calcinha no chão.
Já cansei de me consolar só com esses dedos,
quero você inteiro, dentro do meu furacão...